segunda-feira, 28 de maio de 2018

Movimento operário na Primeira República

  Com o aumento da industrialização, a crescente concentração de capital e a formação de grandes monopólios no século XIX, diversos países europeus se destacaram com o crescimento de suas economias. A partir da ascensão desse sistema, ocorreu o surgimento de uma nova classe social: os operários, isto é, os trabalhadores das indústrias capitalistas. Consequentemente, surgiram relações sociais de exploração entre os donos das fábricas e os trabalhadores das fábricas e a partir da insatisfação vivenciada por esses trabalhadores diversos movimentos surgiram com o intuito de solucionar esses problemas e de reivindicar seus direitos.
  Dentre os acontecimentos que geraram influências importantes cabe citar a Comuna de Paris, 1871, que foi a realização de uma forma de governo controlada por trabalhadores e membros de classes populares da França e de outros países que esteve na memória coletiva do movimento operário, sendo sua experiência evocada em vários processos revolucionários posteriores. Além disso cabe ainda a Primeira Internacional (AIT) que foi a primeira organização que pretendeu reunir diversas correntes do movimento operário do mundo industrializado, na segunda metade do século XIX.
  A partir desses movimentos que ocorreram pelo mundo tais influências afetaram o Brasil quando passava pela onda da industrialização na República Velha. No início da formação dessa classe de trabalhadores brasileiros percebe-se a predominância de imigrantes europeus fortemente influenciados pelos princípios anarquistas e comunistas. Com isso na primeira década do século XX, o Brasil já tinha um contingente operário com mais de 100 mil trabalhadores, com a grande maioria concentrada nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Foi nesse contexto que as reivindicações por melhores salários, jornada de trabalho reduzida e assistência social conviveram com perspectivas políticas mais incisivas que lutavam contra a manutenção da propriedade privada e do chamado “Estado Burguês” possibilitando o início do movimento operário.


Comuna de Paris.


  Durante a primeira república, principalmente entre 1890-1920, os ideais anarquistas eram predominantes na esquerda brasileira. Autores como Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Robin… são alguns que influenciaram o movimento operário brasileiro até 1920. O anarco-sindicalismo era a forma dos trabalhadores se organizarem. Essa influência anarquista no Brasil veio junto aos trabalhadores imigrantes da Europa.
  Com a Revolução Russa em 1917, os ideais comunistas passaram a ser mais conhecidos e influenciar o movimento operário em todo o mundo.
Em 1919 foi fundado o primeiro Partido Comunista do Brasil, o partido ainda tinha muitas influências do anarco-sindicalismo, mas deixa de existir pouco tempo depois.
  Em 1922 foi fundado do Partido Comunista do Brasil, hoje Partido Comunista Brasileiro(PCB), maior parte dos seus fundadores eram egressos do anarco-sindicalismo com forte presença dos ideais comunistas, inspirados pela Revolução Russa. O PCB foi colocado na ilegalidade meses após de ser fundado, mas isso não o impediu de crescer e se tornar um grande partido e dar continuidade ao movimento operário no país.





Delegados do congresso que fundou o PCB, em 1922.



  Durante 15 e 22 de abril de 1906 ocorreu o primeiro Congresso Operário Brasileiro no Centro Galego na Rua da Constituição, Centro do Rio de Janeiro, e reuniu 43 delegados de 28 sindicatos e associações diferentes. Ainda que, desde 1892, tivessem ocorrido outros encontros no Rio De Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, era a primeira vez que um Congresso Operário teve alcance nacional e apresentou resultados amplos.
  No congresso, duas frentes debateram diferentes temas: a dos sindicalistas revolucionários (maioria) e a dos pragmáticos (como eram chamados), que defendiam a colaboração entre classes e o desestímulo à greve. No final do Congresso, as propostas dos pragmáticos foram derrotadas.
Entre as resoluções do encontro, estava a indicação de que o operariado se organizasse em grupos de resistência econômica, colocando fora do sindicato toda e qualquer luta política. Eles também rejeitavam o assistencialismo como forma de atrair mais membros para os sindicatos.
  O Congresso recomendou uma campanha contra a exploração de colonos pelos fazendeiros, sugerindo a formação de sindicatos de trabalhadores rurais. Eles também se posicionaram contra a exploração do trabalho feminino.
  Aconselhava ainda que os sindicatos não criassem cargos remunerados, a menos que
eles exigissem dedicação integral, e a não aceitação de títulos honoríficos pelos sindicalistas. Recomendava ainda substituir as diretorias das entidades por comissões administrativas. Os participantes também aprovaram a luta imediata pela jornada diária de oito horas de trabalho. Para isso foi marcada uma greve geral que seria deflagrada a primeiro de maio de 1907. Greve que foi realizada e durou mais de 30 dias, conquistando vitórias para pedreiros, carpinteiros, sapateiros, gráficos, costureiras e metalúrgicos entre outros. Outra decisão importante foi a criação da Confederação Operária Brasileira
(COB) com sede no Rio de Janeiro.






Primeiro Congresso Operário Brasileiro.


  No início do século XX, pequenas greves eram frequentes nos grandes centros industriais, e estas começaram a ganhar força. Notando a consolidação desses levantes, o governo promulgou uma lei que expulsou os estrangeiros considerados uma ameaça à segurança nacional. Essa tentativa de repressão foi rapidamente respondida por uma nova greve, agora maior, no estado de São Paulo, em 1907.
  O governo, no entanto, permaneceu altamente vilipendioso nas situações de trabalho do período. Devido a isso, uma greve de maiores proporções, em 1917, estourou novamente em São Paulo, buscando a implantação de uma sociedade mais igualitária. A tensão tomou conta das ruas e um confronto com os policiais aconteceu, matando um jovem trabalhador. O governo, entretanto, tomou medidas arbitrárias como reação, prendendo grevistas, expulsando imigrantes e espancando manifestantes. Esse evento serviu para irritar ainda mais os operários, que passaram a organizar passeatas maiores pelo centro da cidade.




Greve Geral de 1917.



  A Greve Geral deixou marcas entre os trabalhadores urbanos brasileiros. Desta maneira, podemos citar:

-O operariado brasileiro adquire consciência de classe
-Desenvolvem-se os primeiros sindicatos(como uma nova força no cenário político) a partir das ligas de classe dos bairros,
-Divulgação e fortalecimento das ideias de esquerda no Brasil
-A resolução de conflitos sociais não deveria ser resolvida através da polícia.



Bibliografia:



https://www.todamateria.com.br/greve-geral-de-1917/

https://brasilescola.uol.com.br/historiab/movimento-operario-brasileiro.htm

https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/movimento-operario-no-seculo-xix.htm

http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2016-04/ha-110-anos-ocorria-o-primeiro-congresso-operario-brasileiro

https://www.estudokids.com.br/movimento-operario-no-brasil/

uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170627111115.pdf



A Revolta da Chibata


 A Revolta da Chibata foi um motim naval no Rio de Janeiro, Brasil, ocorrido no final de novembro de 1910.

 Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssimas condições de trabalho: soldados miseráveis, má alimentação, trabalhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos aos quais eram submetidos, principalmente com o uso de chibata, eram ainda mais graves.




O estopim que desencadeou a revolva ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais.


Os rebelados assassinaram o capitão do navio e mais três militares. Enquanto isso, na Baía de Guanabara, os insurgentes conseguiram a adesão dos marujos da nau São Paulo.

 O condutor da insurreição, João Cândido , foi o responsável por escrever a missiva com as solicitações exigidas para o fim da revolta.

Pressionado tanto pelas ameaças dos marujos quanto de políticos, o governo de Hermes da Fonseca aceitou os termos propostos e pôs fim aos castigos físicos na Marinha em 26 de novembro de 1910 e prometeu anistia a todos os envolvidos. A promessa do governo não foi cumprida e, no dia 28 de novembro, um decreto dispensou cerca de mil marinheiros por indisciplina.

Os marinheiros foram presos na Ilha das Cobras, sede do Batalhão Naval. Sentiram- se traídos e se amotinaram, em 9 de dezembro de 1910. Essa segunda revolta, no entanto, foi massacrada violentamente.

O governo deu uma resposta dura e a prisão foi bombardeada e destruída pelo exército, matando centenas de prisioneiros e fuzileiros navais.

Os 37 amotinados foram colocados em 2 prisões solitárias, lá morreram sufocados. Só João Cândido e outro companheiro sobreviveram.

Em 1911, os que aderiram ao movimento já estavam mortos, presos ou expulsos do serviço militar. Muitos dos envolvidos foram mandados para campos de trabalhos forçados nos seringais da Amazônia e na construção da ferrovia Madeira-Mamoré.



João Cândido, chamado de Almirante Negro pela imprensa, sobreviveu á prisão e foi inocentado, porém por estar traumatizado com tantos desgostos e sofrimentos, foi considerado desequilibrado e internado num hospício.

Ele seria absolvido das acusações em 1º de dezembro de 1912, mas foi expulso da Marinha.

Tentou diversos trabalhos, tanto na marinha mercante quanto em outros locais, todavia era sempre perseguido pela própria marinha brasileira ou por seus patrões quando descobriam que se tratava do Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata.

Virou pescador e vendedor, até que o jornalista Edmar Morel transformou sua história e lançou o livro "A Revolta da Chibata", em 1959.

João Cândido morreu como pescador, sem reconhecimento, pois faleceu em 1969, em plena ditadura militar. Em sua homenagem, João Bosco e Aldir Blanc compuseram a música O Mestre-Sala dos Mares, que ficou famosa na interpretação de Elis Regina.

Durante anos, a única homenagem a João Cândido foi “as pedras pisadas do cais”. Em 2002, a ideia era também conseguir uma indenização para as famílias dos marinheiros que, ao participarem do movimento, pagaram um preço muito caro, sendo despejadas da marinha e perdendo o sustento.

Só em 23 de julho de 2008, o governo brasileiro entendeu que eram legítimas as causas da revolta e concedeu anistia aos marinheiros envolvidos.

Para relembrar o centenário da revolta, na Praça 15 foi erigida uma estátua cujo objetivo é lembrar que a luta pelo fim dos castigos físicos e por melhores condições de trabalho na marinha não foi em vão.





Livros sore a revolta:

- Revolta da Chibata (Rio de Janeiro 1910)Autor: Roland, Maria Inês de França

- A Revolta da ChibataAutor: Morel, Edmar
- João Cândido - O Almirante Negro

  Autor: Cheuiche, Alcy

domingo, 27 de maio de 2018

Guerra do Contestado




A Guerra do Contestado foi um conflito armado que ocorreu no Sul brasileiro, e durou cerca de 4 anos. O conflito envolveu por volta de 20 mil camponeses que enfrentaram as forças militares. Ganhou o nome de Guerra do Contestado devido a área de disputa territorial ser entre os estados do Paraná e Santa Catarina.

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No final do século XIX, o governo brasileiro autorizou a construção de uma estrada de ferro ligando os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Para isso, desapropriou uma faixa de terra, de aproximadamente 30 km de largura, que atravessava os Estados do Paraná e de Santa Catarina, uma espécie de "corredor" por onde passaria a linha férrea. A responsável pela construção foi a empresa norte-americana Brazil Railway Company, de propriedade do empresário Percival Farquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, uma empresa de extração madeireira.

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A construção da estrada acabou atraindo muitos trabalhadores para a região onde ocorreria a Guerra do Contestado. Quando a linha férrea ficou pronta, a empresa não garantiu o regresso das pessoas que tinham se deslocado para a região, permanecendo ali sem qualquer apoio e, consequentemente, numa situação econômica bastante precária.

Ao mesmo tempo, os posseiros* que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina foram expulsos de suas terras. Isso porque, embora estivessem ali já há bastante tempo, o governo brasileiro, no contrato firmado com a Brazil Railway, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. Além de construir a estrada de ferro, Farquhar, por meio da Southern Brazil Lumber, passou a exportar a madeira extraída ao longo da faixa de terra concedida pelo governo brasileiro para os Estados Unidos. Com isso, os pequenos fazendeiros que trabalhavam na extração da madeira foram arruinados pelo domínio da Lumber sobre as florestas da região.


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Com o problema social agravado, um movimento messiânico* ganhou força. Diversos profetas, beatos e monges pregando ideais de justiça, paz e comunhão foram aglutinando pessoas ao redor. Um deles foi João Maria, que se tornou referência para o povo caboclo.

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Em 1912, apareceu na região um monge chamado José Maria de Santo Agostinho, nome que mais tarde a polícia descobriria ser falso. José Maria foi saudado pelos habitantes do local como a ressurreição de outro monge que vivera ali até 1908, o monge João Maria: era como se o antigo líder espiritual tivesse voltado.

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Sem autorização do governo, José Maria que, entre suas pregações falava do fim do mundo nos anos 2000, era contra a república e tinha fama de curandeiro porque estudava as ervas e com elas auxiliava muitos doentes, fundou uma comunidade a fim de receber os oprimidos – Quadrado Santo, razão pela qual a Guerra do Contestado ficou também conhecida como Guerra Santa.

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A mobilização na região passou a incomodar o governo federal não apenas por crescer rapidamente, com a formação de novas comunidades, mas também porque os rebeldes passaram a associar os problemas econômicos e sociais à República. Ao mesmo tempo, os coronéis locais ficaram incomodados com o surgimento de lideranças paralelas, como José Maria. Já a Igreja, diante do messianismo que envolvia o movimento, também defendeu a intervenção na região. De forma autoritária e repressiva, os governos do Paraná e de Santa Catarina, articulados com o presidente Hermes da Fonseca, começaram a combater os rebeldes. Embora tenham tido pouco sucesso nos dois primeiros anos do conflito, as forças oficiais obtiveram, a partir de 1914, sucessivas vitórias sobre os revoltosos - graças à truculência das tropas e ao seu numeroso efetivo, que contava com homens do Exército brasileiro e das polícias dos dois estados.

A guerra se passou entre os anos 1912 e 1916. Com quase 46 meses de conflito, a Guerra do Contestado superou até mesmo Canudos em duração e número de mortes. Famintos e com cada vez mais baixas, diante do conflito prolongado, da força e crueldade das tropas oficiais e da epidemia de tifo, os revoltos caminharam para a derrota final, consumada em agosto de 1916 com a prisão de Deodato Manuel Ramos, último líder do Contestado.

Oficialmente o confronto sangrento – pesquisadores divergem quanto ao número de mortos, que oscila entre 10 e 20 mil – acabou em 20 de outubro de 1916, quando foi assinado o acordo de paz. O ofício estabelecia que as terras da bacia do rio Uruguai pertenceriam a Santa Catarina e as da bacia do Iguaçu seriam do Paraná. Surgem as cidades de Mafra, Joaçaba, Chapecó e de Porto União e vai sendo construída uma nova cultura regional no Brasil.

*Posseiro: pessoa que contém na prática a posse de uma porção de terra, mas não é dono da terra na lei, não tem documentação nem registro no cartório.

*Messiânico:  relativo a um messias ou a movimento ideológico que prega a missão de que estaria investido um homem (ou grupo de homens) na salvação da humanidade.

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