sexta-feira, 25 de maio de 2018

Semana de Arte Moderna

A semana de arte moderna de 1922 criou um legado no cenário cultural brasileiro que marca até hoje as criações artísticas contemporâneas. Mas para entender por que seu impacto foi tao grande é necessário analisar primeiramente como ela se formou.


 Em meados do inicio do século XX (+/- 1890 ate 1925), a influencia da belle époque francesa predominava na cultura nacional. Havia uma atmosfera otimista e conservadora que buscava o ressurgimento do belo e sonhava com as possibilidades das novas tecnologias, como a construção do Bondinho do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro e a modernização de Belém. Entretanto, com as diversas mudanças no cenário mundial, principalmente em decorrência da 1ª Guerra, formas subversivas ao tradicional começam a surgir, como o impressionismo, o cubismo, dentre outras vanguardas europeias. Essas novas expressões marcam a formação dos artistas brasileiros com graduação no exterior, que buscam trazer as influencias para a criação de uma arte nacionalista e moderna, iniciando o movimento pré-modernista. Algo que se pode observar através das exposições de Lasar Segall, de 1913, e da Anita Malfatti de 1913.


Duas amigas (1913), de Lasar Segall. Dimensoes: 85cm x 79cm. Oleo sobre tela. Museu Lasar Segall.




Grand Hotel, em Belém. Influência da Belle Époque no Brasil: “Belle Époque Tropical”.




       
Bondinho do Pão de Açúcar, construído em 1912 no Rio de Janeiro, representando a Belle Époque carioca.





A Semana de Arte Moderna oficializa primeiro momento Modernista do Brasil. Ela representou um divisor de águas na cultura brasileira, gerando transformações profundas e firmando o modernismo no país. Essa nova forma de expressão não foi apreciada pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras.
Participantes da Semana de Arte Moderna

Anita Malfatti   


Anita Malfatti nasceu no dia 2 de dezembro de 1889, aos 13 anos de idade tentou se suicidar, o que para ela foi o momento mais importante e decisivo de sua vida. (veja aqui seu relato sobre isto). Estudou artes e pintura na Europa, onde ficou durante quatro anos em Berlim, Alemanha (1910-1914), na Academia Imperial de Belas Artes. Estudou também em Nova Iorque (1915-1916), onde aprofundou seus conhecimentos sobre pintura na “Arts Students League of New York” e na “Independent School of Art”. Em 1917 Anita reuniu todas suas obras para uma exposição em São Paulo, a Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti. (Conheça mais sobre a exposição e como os expectadores reagiram aqui. Anita Malfatti foi uma artista decisiva para o inicio do modernismo no Brasil, rompendo com os pensamentos provincianos, difundindo estudos sobre arte vindos da europa e Estados Unidos. Anita Malfatti nasceu com uma atrofia no braço e mão direita, o que carregou por toda sua vida.


Victor Brecheret                



Victor Brecheret  nasceu no dia 15 de novembro de 1894, na Itália, ao se tornar órfão aos 10 anos de idade foi morar com o tio em São Paulo, Brasil. Brecheret iniciou seus estudos em 1912, entrando
para o Liceu de Artes e Ofício. No ano seguinte viajou para Roma à fim de aprender escultura. Permaneceu n Itália durante cinco anos, onde teve contato com as vanguardas europeias. Em retorno ao Brasil, Em 1919, montou seu atelie no palácio das indústrias, no ano seguinte entrou
em contato com outros artistas modernistas.
Brecheret foi o responsável por inserir práticas modernistas nas esculturas, recebeu diversas premiações. Mais sobre vida e obra de Brecheret: https://www.youtube.com/watch?v=3Hwezw2rJx0


Mário de Andrade

 Mário de Andrade nasceu em São Paulo, Capital no dia 9 de outubro de 1893. Passou a ter mais

convívio com artistas da época, como Anita Malfatti e Oswald de Andrade.
Mário de Andrade escreveu seu primeiro livro com o pseudônimo de Mário
Sobral, criticando as mortes na primeira guerra mundial. “Há uma gota de
sangue em cada poema.”
Mário de Andrade foi um importante escritor para o movimento modernista
brasileiro. Escrevendo poemas em crítica a sociedade da época.
Assista aqui um documentário sobre vida e obra de Mário de Andrade.



Oswald de Andrade

Oswald de Andrade nasceu em São Paulo, no dia 11 de janeiro de 1890.
Formou-se em Direito e ingressou na carreira jornalística.
Teve seu início na literatura em 1911, no jornal semanal. Viajando à Paris em 1912, onde conhece as idéias futuristas e inovadoras das vanguardas
européias. Em 1917 Oswald de Andrade retorna a São Paulo, defendendo
Anita Malfatti das críticas de Monteiro Lobato.
Oswald de Andrade foi decisivo para a implantação e definição do
modernismo no Brasil, suas obras eram de caráter irônico, combativo e
Assista um documentário sobre Oswald de Andrade:


Di Cavalcanti  



Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti. Nasceu no Rio de Janeiro, a 6 de Setembro de 1897. Ele foi um dos primeiros artistas a pintar elementos da realidade social brasileira, como festas populares, a retratação das favelas, operários das grandes cidades, o samba e etc.
Di Cavalcanti foi um pintor que caracterizou o Modernismo, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna.
Em 1923 foi trabalhar em Paris, e esse período de contato com as Vanguardas européias o estimularam os ideais de trabalho de Di Cavalcanti. Assista também ao documentário Vida e Obra Di Cavalcanti: https://youtu.be/ea-hbloyB1o



Manuel Bandeira 



Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1886, no Recife, Pernambuco. Aos dez anos de idade mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou no Colégio Pedro II entre os anos de 1897 a 1902. Mais tarde, formou-se em Letras. Por sua condição de saúde teve que fazer tratamento na Suíça, para tentar curar sua tuberculose. Com isso teve grande influência das vanguardas européias. Retorna ao Brasil em 1917 e se mantém em Minas e no Rio ainda debilitado com sua doença, mas escrevendo e produzindo até o dia de sua morte com um vasto acervo de poemas, contos, críticas e sátiras literárias. Seu poema Os Sapos foi lido no segundo dia da Semana de Arte Moderna por Ronald Carvalho. Manuel Bandeira foi um escritor que marcou o modernismo, com suas críticas ao parnasianismo foi alvo de críticas do público. Porém mais um célebre escritor e crítico social do modernismo.
Assista também!
Veja aqui o relato de uma amiga que conviveu com Manuel Bandeira décadas
antes de sua morte:


A Semana de Arte moderna queria propor uma inovação da arte a partir das inspirações das vanguardas europeias. Os intelectuais brasileiros se viram em um momento em que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário. Por isso, artistas que estudavam na Europa voltaram ao Brasil com o intuito de explorar mais a arte, devido ao descontentamento com o estilo anterior, e então organizaram um evento cultural que marcaria para sempre a história da arte brasileira.
Ideias como liberdade, identidade nacional e mistura de referências regionais e globais não se esgotaram na Semana. É difícil pensar na arte brasileira contemporânea sem esses componentes. Se hoje os artistas brasileiros agitam casas de leilões e figuram nos mais importantes museus do planeta é porque um grupo de destemidos impulsionou a locomotiva que mudaria a arte brasileira.
O evento chocou grande parte da população e trouxe à tona uma nova visão sobre os processos artísticos, bem como a apresentação de uma arte "mais brasileira". O principal objetivo era desvencilhar-se da forte influência academicista e do conservadorismo que ainda controlavam o repertório artístico-literário brasileiro, fundindo as influências do exterior e elementos da cultura do Brasil afim de criar uma arte essencialmente brasileira. Em São Paulo, esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais tradicionais. Houve então um rompimento radical com a Arte acadêmica.
Dessa forma, a crítica ao movimento foi severa, as pessoas ficaram desconfortáveis com as apresentações e não conseguiram compreender a nova proposta de arte. Os artistas envolvidos chegaram a ser comparados aos doentes mentais e loucos e Monteiro Lobato, escritor referencia na época, foi um dos escritores que atacou as ações da Semana de 22. Também não houve preparação da população para a recepção de tais modelos artísticos. Por exemplo, durante a leitura do poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira  o público no Teatro Municipal  vaiou e atrapalhou a leitura, mostrando desaprovação.
Por conseguinte, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao longo do tempo. Ela é um grande marco não na semana em si, mas nos seus desdobramentos. Por isso, ela acaba se tornando uma referência na cultura brasileira a partir de 1922. Observaram-se diversos grupos de artistas se reuniam, publicando e fundando revistas com o intuito de disseminar esse novo modelo. Destacam-se:
Revista Klaxon (1922)
Revista Terra Roxa e Outras Terras (1927)
Revista de Antropofagia (1928)
Revista Estética (1924)
A Revista (1925)
Para saber especificamente sobre o papel de cada revista e os autores publicados e difundidos, veja a sequencia acima resumida em 7 slides: http://slideplayer.com.br/slide/3280886/ 

         
Capa da revista Klaxon, 1922.                                                    Revista de Antropofagia, 1928.

     Os desdobramentos de tudo isso você vai encontrar até hoje na cultura. O Tropicalismo, que teve inicio em 1967 e 1968, por exemplo, deriva das influências da Semana de Arte Moderna, pois também foi uma ruptura da estética e conteúdo anteriores, impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional. A Bossa Nova precedeu o Movimento Tropicalista e também está muito ligada ao modernismo.






Album Tropicalia ou Panis et Circencis, lançado por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé.



7 comentários:

  1. Você pode me dizer o porquê Tarsila do Amaral não participou?

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    1. No momento em que a semana de arte moderna de 22 ocorreu, em fevereiro, Tarsila se encontrava na europa. Com o intuito de aprimorar sua técnica e aprender mais sobre as vanguardas européias. Contudo, após receber a notícia da semana de arte moderna, por sua amiga Anita Malfatti, retornou ao Brasil em junho do mesmo ano.

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  2. Já que o objetivo desta manifestação artística era criar uma arte mais brasileira, por que foram usadas como inspiração as vanguardas europeias?

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    1. Primeiro, vale lembrar que o modernismo não surgiu só com o intuito de criar uma arte mais brasileira. O modernismo também se opõe ao parnasianismo, que  tinha como característica a forma. (Leia "Os Sapos" de Manoel Bandeira). Além disso o modernismo surgiu como uma crítica social. (Temos "Ode ao burguês" de Mário de Andrade).
      Entretanto, a maior parte dos artistas participantes, senão todos, teve seu período na europa. (Têm-se no texto o tempo que cada um passou na europa). E as vanguardas européias não serviram como inspiração, pois as vanguardas européias eram técnicas, como o cubismo, expressionismo, surrealismo, dadaísmo. E usar dessas técnicas simboliza muito uma das vertentes que se originaram do modernismo, o Antropofagismo, que para os nativos era comer a pessoa para adquirir as características e usar para si em sua vida. E é isto que eles trazem, pegar as técnicas européias e usar ao favor deles para trazer a cultura brasileira à tona. Espero ter ajudado!!! =)

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  3. Uauu !! Trabalho muito bom pessoal ! Podem ter certeza que foi muito enriquecedor ! Mas eu tenho uma pergunta .... O que vcs acham desse termo "moderno" ? Acham que não seria uma forma de menosprezar as outras artes que antecederam esse período ?

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    1. Obrigado, você é muito gentil!!
      Pegando do princípio que o modernismo surgiu após o parnasianismo com o intuito de crítica, que foi um movimento que trouxe características do renascentismo, se importar com a forma e a beleza, que ocorreu por volta do séc XVI. Logo a idéia de modernismo vem mesmo dessa idéia do moderno, de modernizar as coisas, as formas e a população. O modernismo foi muito criticado por todos, que estavam acostumados com as técnicas do parnasianismo.
      Mas em meu achar, eu suponho que não, por mais que os movimentos se opunham o nome vem das características e não de uma forma de embate entre eles. Espero ter ajudado!! =)

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  4. É possível dizer então que a semana de 22 deu início ao modernismo no Brasil?

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